Às margens do Danúbio, Budapeste brilha sob qualquer luz

por Antonella Kann

Por ser descendente direta de húngaros, há quase quarenta anos vou para Budapeste com uma certa frequencia. No inverno, na primavera, no outono, no verão. Em qualquer estação do ano, a cidade é encantadora. Digo isso não apenas por razões sentimentais, pois desde muito a vejo com olhos de turista também. E mesmo nos idos tempos, quando ainda estava encarcerada atrás da cortina de ferro, a capital da Hungria era fascinante.


A paisagem não mudou muito, mas claro que depois do seu ingresso na União Européia, Budapeste se tornou um destino cobiçado. Além do exotismo inato do povo, a gastronomia e a diversidade de suas paisagens, o país é privilegiado pela sua localização.


No ano passado, no mês de junho, ocorreu algo muito curioso, embora típico para os cidadãos: as águas do Danúbio, devido às fortes chuvas que assolaram outras regiões, simplesmente começaram a subir, e dia após dia eu observava o nível do rio alcançar a margem, depois invadir as calçadas mais baixas, até chegar num ponto onde até os trilhos do tram (bonde elétrico e meio de transporte publico) que circula à beira-rio estavam encobertas.

O centro turístico de Budapeste, próximo às margen do Danúbio.



O Danúbio invade até o pé do Parlamento. Poucos barcos trafegam.




Com a maior naturalidade, as pessoas andavam de bicicleta pelo calçadão, evitando as poças, o trafego era desviado dos locais alagados, alguns túneis foram interditados e mesmo assim a rotina de Budapeste continuou como se nada estivesse acontecendo.

Olhando de cima, mal dá para perceber as margens, já engolidas pelo rio.

Aos domingos, no Chain Bridge, tem uma feirinha de artesanato que atrai multidões. Ao longo de toda extensão da ponte mais famosa da cidade, barraquinhas são montadas, vendendo cerâmicas, artefatos de couro e de madeira, e ainda um montão daquelas bonequinhas húngaras, de roupinhas bem coloridas. Se tiver com fome, tem sanduíches, e uma grande variedade de salsichas, temperadas ou não, além de pratos típicos, como goulash e outros à base de páprika.


Nessa época do ano, as temperaturas já não convidam a grandes passeios a pé, mas ainda assim é uma cidade que vale a pena conhecer – até debaixo de neve, quando fica tudo branquinho e bem romântico.









Rotina madrilenha pra ninguém botar defeito


por Antonella Kann

Vou dar uma pincelada sobre o que é a vidinha em Madrid.


A grosso modo, nada funciona antes das 10 da manhã. Nem mesmo padaria, acredita? A cidade fica a meia bomba. As pessoas também não circulam cedo.


Lá pelas 11, é quando voce vê o povo tomando café, sentados em lugares charmosos, com um ar letárgico, na maior calma. E comem muitos folheados com o café com leche.
O movimento de pedestres começa em torno do meio dia. Quando as calles se "aquecem", as portas das lojas abrem suas portas... Mas só às três é hora de pensar no almoço. E os restaurantes ficam cheios, as calçadas coalhadas de mesinhas, num vai-e-vem de garçons e bandejas abarrotadas de cañas – o chope daqui, cremoso, geladinho, uma delícia! Pelo qual voce acaba pagando menos de € 1 !!


Ah, nesse ínterim, as ruas voltaram a ficar desertas, as lojas fecharam pra siesta e nada funciona. Horário de banco é que é engraçado: das 8:30 às 3 da tarde e só. Sendo que nas sextas, fecham à uma. O curioso é que muitas empresas também dão alvará de soltura pros seus funcionários no meio da tarde do último dia da semana. Bem que seria ótimo adotar essa norma lá no Brasil, não acham? Dava pra pegar uma prainha no final do expediente...

O comércio reabre as suas portas – sim, fechou quase tudo por umas horas! – em torno das 5. Aí o movimento recomeça, as multidões invadem ruas e lojas. Procissão de formigas, parece. Com poucas calçadas largas, em algumas ruas voce espera a vez pra caminhar.
Quando os ponteiros batem oito da noite, os bares se enchem. E´ hora dos tapas, aqueles belisquetes variados, religiosamente consumidos em balcões e regados a cañas. Muito animado o ambiente vespertino.


Jantar, ixe! Só depois das 10. E é normal voce entrar num restaurante depois da meia noite. Tanto é que até as 8 da noite se diz “buenas tarde”, porque o comércio segue aberto até as tantas. E toma de gente perambulando nas calçadas, lotando os bare que estendem suas mesas até onde dá, cadeiras e ombrellones com aquecedores até o meio da calçada, numa boa.



Dormir? Bem, a coisa aqui é pontual. De domingo a terça, a nite é um pouco mais calma, voce consegue dormir sem ouvir o tilintar dos copos dos bares que emolduram a nossa rua estreita no bairro da Chueca. A partir de 4ª feira, a coisa muda de forma espiral : depois de meia noite fica impraticável transitar pelas ruas, pois é um mar de gente circulando incessantemente pra lá e pra cá, os restaurantes ficam lotados ( reservas imprescindíveis, gente!) e rola de tudo a noite inteira. Até o sol raiar, que nesta época do ano só mesmo depois das oito da matina.





Bravo 24, no hotel W de Barcelona: o novo restaurante do chef Carles Abellan


hotel W na Barceloneta



Por Alexandra Forbes


Três semanas atrás, desembarquei em Barcelona, em um domingo de sol e fui almoçar no Bravo 24, no hotel W da Barceloneta.

O restaurante é do Carles Abellan, mais conhecido discípulo de Ferran Adrià em Barcelona, que lançou carreira própria em 2001. Ele tem vivido uma forte onda a favor desde que abriu o ótimo Commerç24, um bistronômico especializado em cozinha de vanguarda.

Desde então Abellan resolveu expandir seus negócios, abrindo, primeiro, o bar de tapas Tapas 24 (em 2006), e, recentemente o “asador” Bravo 24 no hotel W na ponta da praia  (não parece aquela vela em Dubai?!).

Dos três, o Bravo 24 é o mais sofisticado/metidinho, coisa meio inevitável quando se resolve abrir um negócio em um megahotelão cinco estrelas.




Achei caro. Bem caro, aliás. Vejam só esses preços:


37 euros por um bife galego.... 106 euros o wagyu australiano... dá pra assustar.

E detestei a musiquinha lounge, maldição dos hotéis que se acham cool.



Tudo isso poderia ter sido o prenúncio de um desastre, até que chegou a comida à mesa.

Apesar de fazer parte de um grande hotel de rede, o Bravo 24 tem um menu que, graças a Deus, não faz concessões aos “internacionalismos-para-gringos”. Superfocado em carnes assadas na brasa, vindas principalmente da Espanha, o menu descreve a origem dos diferentes cortes (parda de montaña do vale Esla, vitela retinto de Extremadura, etc.).

Eu jamais tentaria fazer vocês acreditarem que sei exatamente a diferença entre uma e outra: pra isso é que existe maître d'hôtel, né? O do Bravo, diga-se, soube explicar direitinho as sutis diferenças entre as carnes, sem parecer irritado com tantas perguntas. 

As carnes vêm no ponto perfeito e servidas sobre placas de pedra, com purê de batata e salada à parte.



Mas o resto do menu não fica atrás.



Há desde entradas de peso como os ótimos foie gras com cogumelos e berinjela grelhada com missô e floquinhos de peixe seco por cima (na foto abaixo) como até um risoto perfeitamente al dente de frutos do mar.



As sobremesas também merecem notas altas. Fazem os sorvetes e sorbets à mão, e a torrija (rabanada) com toque de laranja causa disputas pela última garfada.



As quenelles de creme de chocolate salpicadas com flor de sal e servidas com finas torradinhas e azeite, também no menu do Tapas 24, são o perfeito exemplo de como casar doce e salgado com maestria.


Isso tudo em um ambiente super bonito, com vasto terraço e vista para o mar..... dá pra reclamar?




Bravo 24: W Barcelona
Placa de la Rosa dels Vents, 1, Barcelona
Final do Passeig de Joan de Borbo
Tel: +34(93) 295 2636

Boas compras no outlet Las Rozas em Madrid

por Antonella Kann

Estou passando uma temporada madrilenha, por motivos pessoais. Cada vez mais, esta cidade me encanta. O clima, pra começar, não podia ser mais camarada. E a rotina dos espanhóis da capital é bem diferente de outras metrópoles européias.


Hoje quero contar o meu dia de domingo passado, quando resolvi ir fazer um shopping. Domingo?! E´, não é na cidade, não, porque aqui o comércio simplesmente não abre.

Então voce tem que sair de Madrid e ir pra outra cidade, ou melhor, um bairro afastado, chamado de Las Rozas. Vai rapidinho pela auto estrada, a A 6, e saia na Salida 19. Depois é só seguir as placas. Na realidade, são apenas 20 quilometros do centro.


Bem, o Las Rozas Village , que é um membro da cadeia Chic Outlet Shopping, com filiais em Londres, Dublin, Paris, Bruxelas, Munique e outras cidades importantes, nada mais é que um daqueles mega outlets com configuração americanizada, mas onde voce realmente pode fazer bons negócios. Pra quem ama gastar a sola dos sapatos fazendo shopping de moda, esse lugar é tuuuuuuuuudo de bom.


No que botei o pé e tirei minha primeira foto, veio um carinha uniformizado e me disse na lata que era proibido “sacar fotos del shopping”. Um dia ainda vou entender o porque de tamanha estupidez, visto que empunhar uma camera não deveria ser considerado um ato terrorista.

Então, isso vai explicar um pouco as imagens torcidas, retorcidas e meio tortas que fui tirando, na cara de pau, com a maquina pendurada no pescoço. Me senti encenando o papel de camera indiscreta. E até que fica divertido. Mas, como as fotos são apenas para ilustrar o blog e mostrar pra vocês a cara do tal outlet, vou deixar assim mesmo. Também ilustra essa proibição ridícula, que, obviamente, é feita para ser burlada, como provam estas fotos.


Os descontos podem chegar a 70% e a maioria das lojas são grifadas. Tou falando em mais de cem lojas. Desde as figurinhas carimbadas como Armani outlet, Burberry, Calvin Klein e a tradicional e chiquérrima Loewe ( que mesmo com os descontos continua carerrérrima) até as menos badaladas internacionalmente Bimba & Lola ( acessórios, tudo de muito bom couro e gosto), e a contemporânea Sita Murt ( designer fashion, bem original e acessível).




Avenidas arborizadas, restaurantes, sorveterias, cafés e muitas grifes.

Entramos em quase todas, remexemos prateleiras, fuçamos as araras, experimentamos coisas. Saímos do Las Rozas depois de mais de três horas de peregrinação, com alguns potes de creme e shampús da L´Occitane e bolsas, lenços, saias, suéteres, tênis, relógio, blusas...e com aquela sensação de ter feito bons negócios.


Dica do Insiders:
Fazer: navegue pelo site para pontuar sua peregrinação, pois o outlet é imenso e voce acaba cansando. Procure as marcas e designers menos conhecidos pra comprar coisas diferentes, originais.
Não fazer: tirar fotografias, é óooobvio! (rsrrr)
http://www.lasrozasvillage.com/
Juan Ramón, Jimenez 3, Las Rozas
Tel. 00xx 34 91640 4900
Abre diariamente o ano todo, das 11 às 9 da noite.









Suíça na baixa estação, tudo de bão!


por Antonella Kann

Acabei de passar uma semana dentro de uma caixa de chocolate....errr...quero dizer, acabei de voltar da Suíça. Nesta época do ano, outubro, parece que a natureza resolve ficar ainda mais deslumbrante, as cores da folhagem passam do verde ao laranja, com tons de cobre, e a luminosidade faz com que voce não pare de clicar.

Vilarejo típico emoldurado pelos vinhedos e paisagens idílicas



Estava mais precisamente no Valais, uma região famosa por seus vinhedos, que são plantados na encosta, e de onde saem alguns rótulos típicos, entre os quais o fendant, muitíssimo apreciado naquelas bandas. Esse vinho branco se toma geladinho e é perfeito pra combinar com a fondue de queijo e a raclette, iguarias que a gente também não pode deixar de apreciar.





Situado ao sul do país, no vale do Reno e fazendo fronteira com Aosta, na Itália, o Valais é uma área vinícola por natureza. Para começar, o clima é tão reputado que dispensaria comentários : pouca chuva - Sierre é o lugar menos chuvoso do país ; uma insolação extraordinária ; nenhuma neblina e até benfeitorias provocadas pelo foehn ( um vento típico local). O único perigo : o risco de geada na primavera. Em geral, o solo é muito seco, leve, com pedra e calcário.









E peguei em cheio a época das vendanges, ou seja, a colheita. Dezenas de vinicultores catavam as uvas debaixo de um sol a pino e uma temperatura de até 25 º...Mas, a paisagem é um cartão postal, é de se ajoelhar. Se melhorar, estraga, juro! Repare só nas fotos! Não parece que voce está vendo a embalagem de uma daquelas famosas caixas de chocolate?


E’ preciso entender o papel que desempenham as videiras no Valais. Antes de mais nada, cada valaisan é um profundo amante - e conhecedor - de vinho. Ao longo do ano, acompanha o crescimento, treme com o perigo da flor exposta à geadas. Da mesma forma, fica exultante quando, no mês de outubro, os cachos de uvas amarelas e azuis vão se amontoando nas caixas, em meio ao zunido das moscas e abelhas.



Não resta dúvida de que no começo de outono, quando acabaram as férias e qualquer lugar fica a salvo dos turistas, voce pode curtir à vontade qualquer cantinho, ficar a sós com a paisagem sem esbarrar com multidões. E´ o que chamam de baixa estação. Quem pode, deve aproveitar.