Ilha de Man:pequena mas repleta de grandes histórias


por Antonella Kann

Assim que o avião da Manx Airlines iniciou a descida para pousar no aeroporto de Douglas, a capital da Ilha de Man , a moça que estava sentada ao lado olhou pela janela e fez o seguinte comentário : “Amanhã vai virar o tempo.” A previsão foi decretada com tal convicção que não houve coragem para refutá-la, muito embora não houvesse sequer uma nuvem no céu azul e o sol estava radiante naquele entardecer. Era impossível notar qualquer indício que pudesse dar credibilidade a um prognóstico meteorológico tão nefasto. Mas, logo todo o ceticismo se dissiparia: a passageira era uma autêntica cidadã “manx”, ou seja, uma profunda conhecedora dos caprichos que a natureza impinge a esta pequena ilha da qual poucos ouviram falar e que a maioria dos turistas, mesmo os mais curiosos, sequer teve a ousadia de incluí-la em seu roteiro de viagem.


A Ilha de Man, situada entre a costa da Escócia e a Irlanda, tem apenas 20 quilômetros de largura por 54 de comprimento. Com cerca de 70 mil habitantes, faz parte do Reino Unido e, embora minúscula, reserva boas surpresas para os visitantes, tanto pelo seu patrimônio cultural e herança histórica quanto pela beleza natural.




Como é que uma ilha tão pequena consegue ter um Parlamento próprio ? A Ilha de Man, com cerca de 70 mil habitantes, faz parte do Reino Unido , sim, mas com alguns sinais bem peculiares de autonomia. Como foi dito antes, tamanho não é documento. Além do seu Parlamento particular, os manx ( como são chamados os locais) não acatam as leis inglesas em sua íntegra, mas as adaptam às suas necessidades. Não reconhecem a Rainha da Inglaterra como soberana, concedendo-lhe apenas o título local mais nobre – a de Lord of Man. Além disso, a ilha possui a sua própria moeda local, a libra manx, que não é aceita em nenhum outro lugar do planeta! Portanto, mesmo ouvindo todo mundo falando inglês com sotaque britânico, cuidado para não confundir as coisas chamando um cidadão manx de British- pode até ofender alguém.




Entre outras particularidades, a Ilha de Man não tem exército. Mesmo assim, durante as duas grandes guerras mundiais os seus habitantes foram requisitados pela Grã-Bretanha para defender a Pátria e a ilha acabou servindo para abrigar campos de prisioneiros. Felizmente, em nenhum momento ela foi atingida por bombas inimigas e o que consta até hoje do folclore local é que durante todo o conflito da Segunda Guerra, as duas vítimas fatais foram um sapo e uma lebre, acidentalmente mortos por um estilhaço alemão.




Já andou de bonde puxado a cavalo ? Possivelmente não depois do início do século XX. Ou até desembarcar na Ilha de Man. Os bondes eqüestres, chamado de Douglas Horse Trams, são um transporte público e circulam na avenida principal da cidade, a Douglas Promenade. O trajeto percorre toda a orla marítima, que se estende desde do Castelo de Derby até a Praça Victoria, cobrindo uma distancia de aproximadamente 3 quilômetros. Aliás, esta ilha é o único lugar do mundo a oferecer aos visitantes este meio de locomoção tão inusitado. Ao som do apito do condutor o cavalo começa a se deslocar a passo, numa velocidade média de 5 quilômetros por hora, lento o bastante para que a gente possa apreciar a beleza da arquitetura vitoriana nos prédios perfilados lado a lado ao longo da Promenade. Uma delícia estes bondes. Parece que você entrou numa máquina do tempo e voltou ao século XIX. Como todo bom brasileiro, o negócio é puxar conversa com o trocador e o condutor ( ou será que devemos chamá-lo de cocheiro ?). Afinal, depois de ir e vir tantas vezes, pode-se dizer que já dá para se considerar íntimo de ambos.




- Brazil ?!”, se espantou o jovem condutor de longa cabeleira loira e desgrenhada, ao ouvir dizer que alguém de tão longe veio para a sua ilha. Espantada fiquei eu em descobrir que para ele, o nosso país não é tão desconhecido assim. “Football, right ? Pelé ? ”, reagiu com um largo sorriso. Para quem nunca saiu da Ilha de Man...Os manx são chegados a um bom papo. Afáveis, simpáticos e comunicativos por natureza, topam qualquer assunto. Estamos, é claro, numa ilha que tem como vizinhos os irlandeses, escoceses e ingleses. Ou seja, é terra de pub – public bar, onde todos gostam de cerveja.




Levar o que de lembrança da Ilha de Man ? Alguma coisa, sim, bem diferente, pode ser comprado : é pequeno, leve, bonito e barato. Adivinhe: é um selo manx. Eles se orgulham muito de seus selos, confeccionados com esmero e que são, além de verdadeiras miniaturas de uma obra de arte, uma tentação para os filatelistas. E, como última tentação, guardar uma nota de 1 pound , devidamente simbolizado pelas três perninhas de botas e esporas, o logotipo manx por excelência.




Levando em conta a riqueza do seu patrimônio histórico e cultural, a Ilha de Man merece ser vista por inteiro. O melhor é você alugar um carro assim que chegar no aeroporto e aproveitar o máximo o tempo bom para rodar a ilha toda. Não se esqueça de que a mão é na esquerda e o tráfego flui “ao contrário” do brasileiro. E não se arrisque a tomar muitas cervejas nos pubs que for encontrando pelo caminho.