Pétanque: um jogo à la Provençale, onde mulher não entra

por Antonella Kann

Qualquer terreno é válido, desde que ele seja plano, liso e de preferência de areia. Mas também pode ser de terra ou saibro. O jogo não precisa de um espaço muito grande ou extenso e joga-se a todo momento e hora. A única coisa que não pode é deixar mulher jogar.
Uma variação do tradicional jogo de boule, cuja origem francesa remonta ao Primeiro Império, a pétanque surgiu em 1907 em La Ciotat, cidade próxima de Marselha. O seu novo nome deriva da idéia do seu aficionado criador que, impossibilitado de participar do jogo convencional devido à sua súbita paralisia, achou consolo em ficar apenas atirando as bolas, sem sair do lugar, enquanto observava os colegas jogando. Inovou as regras : enquanto no primeiro jogo é preciso pelo menos 20 metros de extensão, e todos se deslocam, a pétanque pode de fato ser jogada quase que na imobilidade, ou seja, de “pieds tanques” (pés juntos). Para tal, qualquer pedacinho de terreno plano serve.

A prática do jogo de pétanque se espalhou tanto pela região da Provence que está completamente enraizada nos hábitos cotidianos dos seus habitantes. Chegou ao ponto de se tornar um verdadeiro símbolo da maneira de viver nas cidades do sul da França. Pudera: em qualquer quadra vazia ou terreno plano é normal ver grupos de homens entretidos no jogo, enquanto outros assistem, compenetrados. Um fato curioso é a tradição que manda excluir a presença feminina do jogo e, digamos, da área- exigência que é respeitada até os dias de hoje!
Assim como a bocha, o jogo consiste em dois times com dois jogadores que recebem três bolas cada um. O objetivo da pétanque é atirar- ou pointer, se quiser usar a palavra no idioma original - estas bolas a certa distancia, tentando aproximá-las tanto quanto possível do cochonnet (denominada chico, em português), uma bola de madeira bem pequenina que é atirada em primeiro.O jogo não é complicado. É preciso alcançar um total de 13 pontos, que só serão somados depois que cada participante tiver arremessado as suas três bolas. O vencedor é aquele que conseguir colocar a sua bola mais junto do cochonnet , competindo em proximidade com as bolas dos seus adversários. Uma tática que demonstra a habilidade individual é tirer, ou seja, literalmente jogar com a intenção de “tirar” a bola de seu oponente do caminho, fazendo com que a sua usurpe o lugar mais favorável. Se o jogador não conseguir esta façanha na primeira tentativa, ele se vê obrigado a gastar a sua segunda bola e assim sucessivamente. Sendo assim, as tentativas de cada um podem ser feitas em uma, duas e até três vezes. O jogo termina quando todas as bolas foram arremessadas. Mas, para efeito do somatório de pontos, só ganham as três bolas que estiverem mais junto ao alvo, ou seja, ao cochonnet.



As mulheres não precisam ficar ofendidas pelo fato de serem “proibidas” de participarem do tradicional jogo de pétanque, até porque ninguém consegue dar qualquer explicação sobre a razão deste preconceito. Sendo assim, o sexo feminino pode agir com tranqüilidade: caso fique com desejo de infringir uma tradição secular, queira sentir-se à vontade para entrar num campo, pegar uma bola na mão e começar a jogar. Detalhe: antes, não se esqueça de comprar as suas próprias bolas no supermercado da esquina!

Chef José Avillez sai do restaurante Tavares, diz imprensa portuguesa



por Alexandra Forbes

Estou cho-ca-da!

Li agora no OJE, português, que "mais uma vez, o mundo da gastronomia está envolto em polémica e incertezas: o chefe José Avillez, inesperadamente, sai do Tavares, o único restaurante em Lisboa que actualmente detém uma estrela Michelin".


Palavra do jornalista Vicente Themudo de Castro.


Mesma notícia deu a revista portuga Inter Magazine em seu Facebook:




José Avillez sai do Restaurante Tavares em Lisboa. Aguarda-de a qualquer altura comunicado a oficializar a saída da mais jovem estrela Michelin em Português.




Estive com Avillez na cozinha do El Bulli em setembro, onde ele estava passando uma semana observando tudo, a convite da "chefia", e não pude adivinhar que havia algo de errado entre ele e o restaurante Tavares. Aliás, na manhã seguinte, em curto papo com ele em Roses (nos esbarramos na praia, acreditam?!), tive a impressão oposta, de que ele tentava comprar o Tavares dos sócios-investidores. 


E agora, isto?! Azar dos tais investidores, que tinham na mão o maior trunfo que poderiam querer. 


Esse menino vale ouro, e se não acreditam em mim, saibam que sr. Ferran Adrià pensa exatamente o mesmo. Estou doida para descobrir o que houve e para onde ele vai. Assim que descobrir, conto a vocês neste espaço!






Restaurante Tavares




E a seguir, um repeteco de relato sobre meu jantar no Tavares, em abril passado:


 Comemos e bebemos a fartar, a começar por uns belos amuse bouches como o robalo com vieira e lingueirão servidos em um falso seixo do mar feito por uma ceramista amiga dele:


Não sei se vocês se lembram, mas contei aqui que Avillez, do alto de seus 30 anos, é oenfant terrible da gastronomia portuguesa, já conquistou estrela Michelin e provoca arroubos de admiração ou desdém (que alguns chamariam de inveja…) mas jamais passa desapercebido. Menino polêmico mas de grande talento.

Serviu-nos seu atual menu degustação, de nome inspirador: Menu Desassossego. E não por acaso. Do livro homônimo de Fernando Pessoa pode se pinçar várias frases que parecem escritas para e sobre o próprio Avillez:
“Não pertencera nunca a uma multidão. Dera-se com ele o curioso fenômeno que com tantos – quem sabe, vendo bem, se com todos? – se dá, de as circunstâncias ocasionais da sua vida se terem talhado à imagem e semelhança da direção dos seus instintos, de inércia todos, e de afastamento.
Nunca teve de se defrontar com as exigências do estado ou da sociedade. Às próprias exigências dos seus instintos ele se furtou.”



E seus instintos, até aqui, têm lhe levado longe. Abre o menu desassossego uma bela “paisagem” disposta sobre vidro com grande minúcia. Debaixo do vidro, algas e gelo seco. Cada marisco e fruto do mar cozido separadamente, por meros segundos, servidos no auge do frescor, formando um todo de imensa delicadeza, uns poucos salicórnios (“aspargos do mar”) para dar um crunch. A maçã verde traz o necessário toque ácido. Um porém: talvez dispensasse a água de côco texturizada que coroa o conjunto – não consigo ver o link entre côco e Cascais, acho que destoa.




Cascais à beira mar, amêijoas, berbigão, mexilhão, 
gamba da costa e santola com sumo de maçã verde, 
algas e merengue de limão




Comi pela segunda vez um prato que já na primeira não me apetecera. Ele segue remando contra a corrente e as críticas negativas (não só minhas) e servindo a tal…


Miragem de ostras “petrificadas” no deserto,
creme de funcho com caril de madras, 
rebentos, plantas e algas


Petrificada, não é. Mas a pobre ostra chega à mesa em sarcófago quebradiço dourado, depois de um pulo em nitrogênio líquido e outro em manteiga de cacau. Some-se a isso curry e algas e…. nem preciso dizer que não funciona.

Outro repeteco  de prato servido em Montreal foi este:



A horta da “Galinha dos Ovos de Ouro”, 
ovo cozido a baixa temperatura 
com aromas de terra


Ovo, trufa, migalhas de pão…. alguma vez a combinação deu errado? Aqui, os finos cabelinhos de alho-poró e cogumelos trazem complexidade ao untuoso conjunto. As migalhas são fritas, ultra-crocantes. E o ovo, linda esfera dourada e bem mole por dentro.


A cozinha poética de Avillez parece caminhar a passo firme rumo a composições comestíveis de paisagens que lhe dizem algo íntimo. Nas palavras de Fernando Pessoa:

Paisagens… Recordações,  
Porque até o que se vê  
Com primeiras impressões  
Algures foi o que é,  
No ciclo das sensações.


Querem prova? Eis outra paisagem avilleziana:

Prado Açoreano, mãozinhas de vitela
branca com espargos e trufa de Périgord


Só de pensar em um vasto prado nos Açores, já sonho com a beleza rústica daquilo. Outro prato bem concebido e cheio de nuances, onde eu apenas mudaria o manto verde gelatinoso que encobria o resto. 


E em seguida, mais uma paisagem, algo sensual, que me esqueci de fotografar:

Na praia numa fogueira, salmonete assado com migas de choco com tinta e molho dos fígados 




Já começava a perder a atenção quando chegou um prato para, de um só golpe, me levar a passear pelo Portugal profundo, sabores da terrinha sem grandes malabarismos. Carne, verdura, alho, doce, salgado, amargo. Muito bom. Tanto que só fui tirar foto a meio caminho…

Cabritinho da Serra da Estrela em duas cozeduras, 
puré de beterraba e alho, grelos salteados
e crosta de pão com ervas e laranja




Aí era partir pro abraço: não havia como não se deleitar com isto aqui:
Serra da estrela, queijo, banana e marmelada



E encerramos com chave de ouro: cubinhos de marmelada, sorvete, enfim: miniaturinhas diversas que àquela altura da noite e de vinhos já não discernia tão bem, se me permitem a sinceridade:


O mistério da queijada de Sintra

Estava tudo perfeito? Não. Acho, principalmente, que um restaurante belo daquele jeito, servindo comida nesse nível de sofisticação mereceria um serviço melhor – eu mal ouvia as explicações da tímida garçonete. Acho também, como já disse antes, que Avillez será mais chef quando seu estilo pessoal estiver mais destilado – ainda noto muitos ecos tecno-espanhois em seus pratos.
Mas se me perguntarem se gostei do Tavares, a resposta, apesar das imperfeições, é um veemente SIM! Podem apostar que este menino ainda vai dar o que falar…
Tavares: rua da Misericórdia, 35, tel. 351 342-1112

Tallinn, um rumo para turistas em busca de novidades

por Antonella Kann

Situada ao oeste da Rússia, ao norte da Letônia e ao leste da Suécia, a Estônia é um pequeno país dos Bálticos debruçado sobre o Golfo da Finlândia. Tallinn, a capital, é uma cidade encantadora, rica em história e está rapidamente se tornando um destino muito atraente.


Tallinn é reconhecida por ter a cidade medieval mais bem preservada de todo o norte da Europa, pois conseguiu manter intactos inúmeros monumentos históricos, muralhas, igrejas, castelos e construções que datam desde o início do século XI ao século XV.

A Tallinn do século XI foi construída com três objetivos: fortaleza, porto e praça de comércio. O clero, a nobreza e a alta burguesia se instalaram na parte mais alta da cidade, numa colina conhecida como Toompea, em volta da qual ergueram uma muralha para manter distancia do burburinho dos comerciantes e artesões que ocupavam a parte baixa com seus armazéns e suas oficinas, à proximidade do porto e da praça do mercado.



Imagine então um autêntico cenário medieval, entremeado por ruelas estreitas de paralelepípedos que desembocam em pontos estratégicos, enriquecido por torres, igrejas, catedral, casarões de época, passagens cobertas e escadarias que levam o visitante para o topo das construções para que tenham uma visão panorâmica da cidade. O mais surpreendente é saber que este conjunto arquitetônico resistiu a todos os invasores e ainda saiu praticamente ileso dos bombardeios durante as duas grandes guerras.




Além de ser rica em história, com muitos museus para contá-la, a parte medieval de Tallinn também se tornou o nicho para a boa gastronomia e endereço de alguns dos melhores restaurantes da capital, como o estiloso “Bocca”, o requintado “Stenhus” - localizado numa galeria subterrânea - ou o temático e tradicional “Balthazar”, instalado no mesmo prédio da mais antiga farmácia em funcionamento da Europa, que data de 1422.





Por outro lado, boa parte dos requintados hotéis-butique e design hotéis estão abrigados em alguma construção antiga que passou por uma reforma interna para acomodar quesitos modernos, confortáveis e de última geração. Sendo assim, não se surpreenda se numa antiga moradia que data de 600 anos, como o estrelado “Three Sisters Hotel”, os quartos ostentam telas planas de tevê, DVD´s, controle remoto para a luz ambiente e entre todas as amenidades imagináveis ainda serve o café da manhã até às 18 horas.


Explorar Tallinn a pé é a melhor maneira de se embrenhar por todos os cantinhos da cidade. Se tiver preguiça, há um outro meio de transporte tipicamente local, uma espécie de triciclo com um jovem personal pedalante, que vai levando no máximo dois passageiros no banco traseiro. Mas é a praça do mercado, a Raekoja Plats, que se torna palco principal dos mais importantes eventos e festivais que se alastram verão adentro. Muitas festividades são ligadas à música, outros são temáticos, como o Festival da Cerveja e o Festival Medieval que ocorre no inicio de julho. Neste último, a praça fica lotada de barraquinhas que vendem desde comidas típicas a artesanato local, mas o interessante são os trajes usados pelos comerciantes, fiéis à época que retratam. Brincadeiras e jogos fazem parte do programa e há inúmeros espetáculos para animar a festa.




Apesar do idioma ser incompreensível até mesmo para quem domina um vasto número de línguas estrangeiras, a comunicação com os locais é fácil: a grande maioria fala inglês (e, é claro, russo). E, aliada à simpatia e hospitalidade natural da população, o turista se sente muito à vontade e bem-vindo desde o momento em que pisa no aeroporto. O estoniano tem orgulho de seu país, respeita as suas tradições e procura cada vez mais a sua individualidade cultural e ideológica. A Estônia, com apenas 1,4 milhões de habitantes dos quais um terço mora na capital, faz questão de assumir a sua própria personalidade. E Tallinn, centro turístico por excelência, está rapidamente se tornando um rumo muito atraente para o turista à procura de algo novo.





Emoções no lago gelado de St.Moritz


por Antonella Kann

A paixão por cavalos me leva de vez em quando para St. Moritz, que é onde se realiza um evento super diferente, chamado White Turf . O "Turfe Branco" é um evento equestre de ambito internacional, que se realiza anualmente desde 1907 nesta estação de esqui suíça mundialmente famosa, localizada no cantão dos Grisons.








Os três primeiros domingos de fevereiro marcam a ocasião em que centenas de pessoas, entre competidores, turistas, aficionados e jornalistas de vários países, comparecem para prestigiar este acontecimento único no genero e palco para uma competição equestre de rara beleza.






O “turfe branco” conta com outras tres modalidades bem menos convencionais : a “Trabrennen”, uma corrida de 1900 metros com levíssimos trenós puxados por um trotteur, cavalo trotador que entra em fase de treinamento já adulto e participa exclusivamente deste tipo de prova. Cada jóquei fica acomodado num pequeno assento e encontra o seu equilíbrio apoiando os pés nos estribos da estrutura. Uma terceira prova, a “Hurdenrennen”, é uma belíssima corrida com obstáculos na pista.






Mas, sem dúvida, o ponto culminante de todo o “White Turf” é mesmo a prova de “skikjoring”, modalidade na qual os jóqueis são nada menos do que esquiadores puxados por cavalos, atingindo uma velocidade de pico de até 50 km/hora. Embora pareça uma brincadeira de criança, a prática de “skikjoring” requer dos competidores habilidade, coragem e competência, pois é uma prova bem perigosa, principalmente no momento da largada e durante a primeira curva, quando todos os esquiadores se acotovelam para obter uma posição mais avantajada.





Em volta do hipódromo o ambiente é festivo, onde borbulha uma verdadeira feira de produtos suíços, como venda de relógios e vestuário de esqui, além de estande de carros de luxo e barraquinhas que servem taças de champagne, ostras frescas, raclette, risotto, e muitas outras iguarias regionais.